Mas logo no começo da sua vida ele teve a sua primeira grande perda, foi separado da sua mãe. Mas, amado, como era, todos fizeram dele uma criança feliz, fazendo ele acreditar que tudo que ele tinha lhe bastava.
E assim, sem querer decepcionar ninguém, sem querer que ninguém achasse que ele tava sendo ingrato, ele foi crescendo.
Até que um tempo depois o EU foi sumindo dentro de uma massa corpórea cada vez mais, dando lugar ao MIM, criado e tão esperado por todos que amavam o EU.
O MIM nasceu, cresceu, foi absurdamente bem educado, sempre muito bem elogiado, estudou muito, brincou muito, fez muitos amigos, namorou bastante, passeou, viajou muito, trabalhou, ou seja, teve uma vida bastante intensa, até que um dia, um belo dia feliz de Ano Novo, o MIM conheceu o Amor.
O MIM então, ficou absurdamente perdido, deslocado, enlouquecido com tamanha novidade. Ele não sabia o que fazer, o que dizer, o que ele sentia, o que acontecia àquela massa corpórea que o envolvia.
Até que chegou uma época em que com todas as alegrias absurdas, tristezas doloridíssimas, surpresas agradáveis e desagradáveis e tudo mais que o amor traz, o MIM começa a não aguentar mais o peso daquele sentimento e começa a sumir, a se esvair naquela massa corpórea dando de novo lugar ao EU, que ia crescendo de novo cada vez mais rápido e mais forte, ensinando ao pouco que restava do MIM, tudo sobre o amor, sobre porque ele nunca conseguiria vencer aquela força estranha.
E assim, o EU voltou a imperar no reino da vida, mas logo sofreu a sua segunda grande perda, a pessoa amada.
Com a dor do amor ainda gritando, o EU percebeu que existia uma coisa com a qual ele não sabia lidar, por ter ficado toda uma vida trancado, esquecido em algum lugar provavelmente escuro e frio, essa coisa era o Ser Humano.
O Ser com todas as suas angústias, dores, alegrias, tristezas e surpresas, assustou o EU e este não querendo aprender nada que tivesse a ver com a falsa identidade do MIM, decidiu então, vencer aquela massa corpórea, numa luta surpreendente e fugir, sumir pra sempre, em algum lugar do reino da vida que não fosse tão escuro e frio quanto o que ele passou toda a existência e que não tivesse nenhum ser humano que o assustasse, para que ele pudesse extinguir de uma vez por todas aquele odioso MIM e pudesse viver SÓ com a coisa que mais o fazia feliz, com a coisa que ele sabia lidar muito bem, com a coisa pela qual todos buscam, mas só na solidão se encontra: O AMOR.
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