Diálogo Desnecessário

-Essa não é a minha cultura.
-Às vezes eu me pergunto se você tem cultura.
-É. Eu estou começando a achar que eu não tenho mesmo.
-Tenho tantas saudades do tempo que éramos parecidos.
-O conjunto de diferenças de um casal é o fim da relação. Eu também tenho pensado muito no passado.
-Eu queria poder salvar a gente.
-Não se salva uma relação meu amor. Ou é ou não é.
-Eu queria que a gente fosse.
-A gente foi.
-E por que...
-Não. Não comece outra vez. Você quis acabar. Eu estou bem. Estamos bem.
-Por isso. Essa sua frieza me mata. Você nunca...
-Sempre!
-Mentira!
-Não duvide do que eu sinto, eu já falei.
-Ai! E essa passado próximo que não sai da minha cabeça. A gente se conhecendo no penúltimo dia do ano; saindo pra almoçar e sentando lado-a-lado, já com uma intimidade de quem sabe que vai pra cama mais tarde; trocando olhares e ciúmes na boate na madrugada; suando os lençóis em silêncio; acordando meio envergonhado; uma infinita cumplicidade e um longo tempo de um belo amor. Dói tanto ver tudo escoando pelo ralo... Qual o passado que você tem pensado?
-No último dia do ano, quando estava me sentindo o "rei da cocada preta" namorando uma, ficando com outra e sendo azarado por todos. Eu dizendo NÃO nessa noite, no dia seguinte, na noite seguinte e assim por três dias, até que resolvi ceder e vivi um grande amor que não foi pelo ralo. O que eu sinto por você também não foi pelo ralo. Nunca. Nenhum amor escoa pelo ralo. Ele se transforma, mas continua dentro de ti.
-Eu achei que você pensava em nós. Como eu sou idiota.
-Eu vou calar, porque também te amo!
-Eu vou embora!
-Eu nunca quis te machucar. Repito: eu te amo!
-Cala essa boca!