- ...assim. Sem mais nem menos. Por quê?
- Não... nada... é que... ah... faz o que você quiser... mas... você volta?
- EU-VOU-DAR-UMA-SAÍDA.
Atravessou a rua, entrou no primeiro boteco que avistou, cujo nome já dispensava qualquer comentário "bar trapos", tomou suas cinco primeiras doses da noite. Puxou assunto com uma garota que estava sozinha numa mesa, beijou-a por alguns minutos até que ela o expulsasse dali com um tapa na cara depois que tentou enfiar os dedos na sua buceta.
Mais adiante um novo bar, não mais bem-sucedido. Outras doses. Outra mulher. Outro beijo. Outro tapa, dessa vez com ameaça de garrafadas.
No bairro vizinho, um dos piores lugares da cidade. Outras doses, mulher, beijo, socos e navalhada no braço e no rosto.
Num outro bairro, uma praça. Sentou num dos bancos, chorou, vomitou, cochilou por algumas horas.
A mulher ligou pro melhor amigo:
Mais adiante um novo bar, não mais bem-sucedido. Outras doses. Outra mulher. Outro beijo. Outro tapa, dessa vez com ameaça de garrafadas.
No bairro vizinho, um dos piores lugares da cidade. Outras doses, mulher, beijo, socos e navalhada no braço e no rosto.
Num outro bairro, uma praça. Sentou num dos bancos, chorou, vomitou, cochilou por algumas horas.
A mulher ligou pro melhor amigo:
- ...tem mais ou menos cinco horas e meia.
- O que ele te disse m0mentos antes de sair?
- Acorda! Acorda!
Acordou. Avistou um homem com um ar jovial. Bonito, barba por fazer, cabelos lisos, corpo semi-definido. Chamou. Inventou uma triste história qualquer e ao despertar estávam os dois pelados na cama de um apartamento típico de homem solteiro.
- Bom dia! Está se sentindo melhor?
- Só um pouco de dor de cabeça.
- Devem ter pegado pesado com você, hein! Quer ir na delegacia?
- Pra que?
- Pra prestar queixa!
- De que?
- Do roubo, ora bolas!
- Ah... não... é que... não precisa... eu... não quero... não gosto de polícia.
- Humm... entendo! Como é seu nome?
- Miguel e o seu?
- Fernando. Do que você está precisando agora, Miguel?
- De uma passagem pra Índia.
- hahahahaha... Eu falo sério. Agora!!!
- Eu também.
A campainha tocou.
- Pois não!
- Estamos à procura deste homem. O senhor o viu?
- Sim. Está aqui no quarto. Por quê? Ele cometeu algum crime?
- Não senhor. Sua mulher o procura.
- Pode falar pra ela, Sr. Policial, que eu morri.
- Você é casado?
- O senhor tem que nos acompanhar, ou entrar em c0ntato com a sua mulher.
- Fale o que o senhor quiser pra ela e me deixem em paz.
O melhor amigo chegou na casa da mulher. Silêncio.
Os policiais foram embora. Silêncio.
Os policiais foram embora. Silêncio.
- Por que a Índia?
- Preciso encontrar o Grande Amor da minha vida.
- Por que na Índia?
- Porque é lá que ele se encontra.
- Fica comigo.
- Não posso.
- Por quê?
- Não sinto nada por você. Mas não é você o problema, sou eu. Não sinto nada por ninguém. Não sinto nada nem por mim mesmo. Não sou ninguém. Preciso me encontrar ou achar um sentido, sabe!!!
- Você não vai conseguir a Índia.
- Eu sei.
- Então.
- ...
Achava, como a Clarice, que nascer tinha lhe estragado a saúde. Tinha a certeza de que nunca seria feliz ou encontraria o seu amor ou daria boas e verdadeiras risadas novamente ou qualquer coisa que fizesse parte de uma pessoa dita normal. Tentou explicar, sem sucesso, tudo isso para o Fernando. Foi embora e entrou no primeiro boteco que avistou...
...
Os policiais foram embora. Silêncio.
...
Os policiais foram embora. Silêncio.
- Quem é Fernando?
- Não sei explicar.
- Roubo, casamento, mulher, Fernando. Quem é você afinal?
- Essa é a única pergunta para qual eu não sei nem INVENTAR uma resposta.
- Onde você vai?
- Pra Índia!
- Como?
- ...
Começou a ter mais certeza da sua ida à Índia quando, pra se despedir da sua terra natal, entrou no primeiro boteco que avistou...
...
Os policiais foram embora. Silêncio.
...
Os policiais foram embora. Silêncio.
- ...
- Por que você não quer dizer o seu nome?
- ...
- Olhe, nós estamos aqui pra te ajudar, mas você precisa colaborar. Se você ajudar, nem vai precisar ficar muito tempo aqui.
- ...
- O que você mais gosta de fazer? Você lembra de alguma coisa? Você estava sozinho na rua? Você tem amigos? Você quer alguma coisa? Você quer ir pra algum lugar?
- Pra Índia!
- ...
- ...
- Cuidem dos curativos. Amanhã, se não tivermos nenhum avanço, teremos que recorrer ao tratamento de choque.
Era uma caixa razoavelmente grande, que fora aberta por ela. Tinha um livro, uma cueca e uma carta:
Délhi - Índia, 10 de novembro de 2009.
Oi meu amor, venho através desta, te dar a maravilhosa notícia que estou voltando antes do tempo previsto. O trabalho dos próximos quatro meses foi cancelado e desembarco no Brasil daqui a uma semana. Já tem algum tempo que não te encontro on line nem recebo respostas dos e-mail's, está tudo bem? Espero que sim! Te mando um presentinho que achei sua cara. Me dá notícias logo. Me fala de você.Cria mais histórias sobre como será nosso reencontro, eu sempre me divirto quando você faz isso. Meu amor, estou muito nervoso sabia? Eu fico me perguntando: e se eu não agradar? se ele não me quiser mais? se ele não gostar quando me vir? se ele me achar feio? hehehe
O mais gostoso, nego, é que você me faz lembrar que o amor é uma qualidade que possuimos, intrínseca e inescapável e que amar nao é nada mais que transbordar, deixar-se ultrapassar a própria borda e perder-se no universo do encontro. Se transborda, porque já é impossivel conter-se, se ama, pois já é impossível fazer diferente. Não espero nada, não desespero por nada, nado sem medo de afogar, amo já sem medo de amar. Ridículo não sou, afinal "ridiculo é quem nunca escreveu carta de amor".
Bom, já me estendi demais... para fechar te deixo um ditado dito pelos lamas tibetanos e que estes dias está bem presente na minha cabeça e que só me faz ser muito grato pela oportunidade de estar vivo e vivendo minha vida. "Se você tem uma rara e preciosa vida de lazer e oportunidade, aproveite-a bem. Se você não a tem, consiga uma."
Pleno de amor por tudo e saudoso sempre.
Te amo amor.
bjuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuus
Henrique.
Comentarei no blog então: que texto mais lindo... sublime e forte! Parabéns, amadinho!
ResponderExcluirEle tá voltando!!!!
ResponderExcluirUh huuu!
Adorei o texto!! Sempre me lembrando o Caio. Amooo!
Nossa...esse Henrique é um apaixonado mesmo...
ResponderExcluirSamuca! Saudades!
ResponderExcluir